Sabrina Carpenter é capa da Vogue Itália de outubro
- Rayane Cristina Rodrigues

- 23 de set.
- 8 min de leitura

"Estou sempre fazendo e desfazendo malas", conta Sabrina Carpenter de sua casa em Los Angeles, sorrindo enquanto se prepara para mais um voo, mais um show, mais um palco. "É praticamente tudo o que eu faço", acrescenta, divertida com o ritmo de sua ascensão, que a levou a alguns dos palcos mais importantes do mundo.
Famosa por seus shows cheios de energia — que costuma encerrar com riffs improvisados e bem-humorados na música Nonsense —, Sabrina já fez, entre outras coisas, a abertura dos shows de Taylor Swift na Eras Tour e participou do festival Lollapalooza em 2023:"Saí de lá me sentindo eufórica. Você está bem no meio de Chicago, dá pra ver todos os prédios, é tudo tão cinematográfico."
No momento em que conversamos, em agosto, ela está prestes a participar do festival novamente — mas desta vez como headliner."Significa que vou poder me apresentar com as luzes apagadas, o que é muito mais divertido, porque eu adoro tocar no escuro."

Apesar de ter subido aos palcos mais importantes, Carpenter o fez sem perder a leveza e a vivacidade que a tornaram famosa. Para ela, se apresentar sempre significou algo além da música em si: trata-se de criar uma imagem que una glamour e ironia.
A capa da Vogue Itália com Steven Meisel capturando exatamente esse equilíbrio."Antes do ensaio, me disseram que queriam um visual bem natural", lembra ela, sorrindo."Mas quando cheguei no set, estava com um olho esfumado e o cabelo volumoso. Pensei: sabem de uma coisa? É exatamente essa a pessoa que quero ser neste momento da minha vida."
A história fotográfica, inspirada nas “garotas alemãs dos anos 60”, tem um ar nostálgico e vintage — um pouco Brigitte Bardot, um pouco clube noturno berlinense. Carpenter gostou da oportunidade de explorar a interpretação de uma moda de outras épocas: "Existe esse glamour em preto e branco, elegante e melancólico. E com aquele toque de Brigitte Bardot, tudo fica ainda mais sexy. Estou entusiasmada com isso", conta ela.
Trabalhar com Steven Meisel pela segunda vez (a primeira foi em março de 2025, para a Vogue americana) foi eletrizante: "Ele se move incrivelmente rápido. É como capturar um raio. E acho que é por isso que confio nele. Eu nem olho realmente as fotos. Deixo ele fotografar e depois vou embora."
A "fisicalidade" do ensaio também ficou marcada na sua memória: "Parecia que eu estava contorcida como um pretzel o dia todo, mas foi realmente divertido e especial — e acho que naquele momento eu nem senti dor."
O estilo de maquiagem e cabelo, assinados por Pat McGrath e Guido Palau, permitiu que ela exibisse um visual que sentia autêntico: "Fiquei tão feliz de poder me vestir de uma forma que refletisse um pouco do meu estilo pessoal. Gosto muito dos anos 60 e 70, e os cortes de alguns looks me fazem sentir confiante. Mesmo que a maioria das fotos seja em preto e branco, elas conseguem transmitir bem a minha personalidade."

Ela ri de novo, lembrando de sua performance diante das lentes de Meisel: "Adoro as ocasiões em que posso realmente interpretar um personagem e transmitir algo... Desta vez foi algo um pouco mais sofisticado do que o normal, mas ainda assim muito leve."
Essa mesma sensibilidade marcou o lançamento de seu novo álbum, Man’s Best Friend. A revelação da tracklist — que acabou se tornando viral — nasceu de uma mistura de ironia e ternura. Em vez de um anúncio tradicional, Carpenter contratou um verdadeiro golden retriever, alegre e saltitante, para entregar a lista de músicas a alguns fãs pessoalmente selecionados por ela — uma forma divertida de fazer referência ao título do projeto.
"No começo, eu queria mandar cachorros direto para a casa dos fãs, para que eles os adotassem", diz, rindo,"mas depois percebi que talvez isso não fosse exatamente legal. Então encontrei uma brecha: um golden retriever de verdade visitou cada fã para entregar a tracklist pessoalmente. Foi um momento simbólico, doce e inesperado."
Para Sabrina, nunca se trata apenas do espetáculo — e sim da conexão. "A coisa mais importante dos últimos 10 anos da minha vida foram as pessoas que me trouxeram até aqui — ou seja, os fãs que ficaram ao meu lado em todos os momentos, nos bons e nos ruins, com as músicas que amaram e até com as que não amaram." Ela faz uma pausa."Estamos realmente crescendo juntos."
A fidelidade dos fãs, explica, é o que a impulsionou a seguir em frente."Eles estão prontos e disponíveis todos os dias, e eu os amo profundamente por isso."Ela ainda se lembra da intimidade que sentiu ao começar a escrever diretamente para eles:"Alguns anos atrás, quando lancei o álbum Emails I Can’t Send, comecei a mandar e-mails para os fãs, e isso foi um presente. Desde então, consegui desconectar muito da minha comunicação nas redes sociais."
Man’s Best Friend, lançado no último dia 29 de agosto, rapidamente se tornou um dos maiores acontecimentos pop de 2025.Escrito em colaboração com Jack Antonoff, Amy Allen e John Ryan, o álbum combina um pop cativante com uma narrativa afiada, humana e absolutamente contemporânea.
O single principal, "Manchild", estreou direto no primeiro lugar da Billboard Hot 100, enquanto "Tears" é uma lição de respeito e ternura com um toque disco.O videoclipe — dirigido por Bardia Zeinali e com participação de Colman Domingo — transita entre sensualidade e absurdo, com um flerte teatral com The Rocky Horror Picture Show.

O álbum é permeado por uma curiosidade lúdica em relação aos homens — seus defeitos, seu charme, suas contradições. "Quando uma das minhas amigas anuncia que vai ter um filho homem, eu fico feliz por aquele bebê", diz Sabrina. "Porque sei que ele será criado do jeito certo." Ela ri. "Me corrija se eu estiver errada — estou na Terra há só 26 anos —, mas parece que já devíamos estar educando os homens desde sempre. Infelizmente, é uma história tão velha quanto o mundo."
Para Carpenter, os homens nunca são uma coisa só: "Acho que eles são uma espécie muito divertida de se observar", continua. "No bom e no mau sentido. Me sinto verdadeiramente adorada, inspirada e amada por alguns... e profundamente confusa, atacada e ridicularizada por outros."
Se existe um fio condutor na nossa conversa, é o gosto dela pela ironia. "Na vida, a gente precisa saber levar com leveza os momentos que nos colocam em desconforto — ou pelo menos, isso vale para mim."
Ela admite que o senso de humor a ajudou a superar anos difíceis: "Durante toda a minha vida, sempre enxerguei o humor dessa forma. Além de ter me salvado, essa espécie de sagacidade virou um filtro — uma forma de garantir uma proteção para o futuro."
A ironia, para ela, é quase genética. "O sarcasmo é passado de geração em geração", diz, rindo. "Meus pais são ambos extremamente sarcásticos… e minha irmã também. Todos nós temos uma dose de humor ácido no sangue."
Mas não é só a família que a mantém com os pés no chão. "Grande parte do mérito vai para meus amigos e minha equipe. São eles que gerenciam minha mente caótica. É a única forma que consigo permanecer sincera em um mundo onde é tão fácil não ser."
Para Sabrina, autenticidade não significa se despir — mas saber a hora certa de tirar a máscara. "Meus shows podem dar a impressão de que estou interpretando um personagem, mas no momento em que falo com o público, falo como eu mesma", explica. "Falo sobre o que fiz naquele dia, sobre como estou me sentindo… esses são os momentos que guardo para mim, os momentos reais."

Carpenter evita soluções fáceis porque está em constante evolução. "Acho que a parte difícil é encontrar uma resposta concreta quando sinto que, como pessoa, estou mudando o tempo todo... o que eu sinto hoje, daqui a um mês será muito diferente", reflete.
Mas essa transformação não a paralisa — pelo contrário, a liberta: "O que estou criando agora é feito para este momento."
E neste momento, Carpenter diz que está em uma fase de recolhimento. "Sinto que estou fazendo muitas reflexões introspectivas. Quero realmente fazer as coisas com intenção, coisas que me façam sentir viva e que tragam vida para mim e para quem está ao meu redor", afirma.
A escrita tem se tornado sua bússola. "Tenho escrito bastante no diário ultimamente", diz num tom prático," o que provavelmente ninguém esperaria depois de dois álbuns em dois anos."
Ela prefere criar em casa: "No meu quarto, ou ao ar livre — embora eu seja picada por muitos insetos... Quando fico cansada disso, dou uma caminhada e me sinto renovada." É meio absurdo, ela admite, mas também reconfortante.
Los Angeles, no entanto, nem sempre oferece a solidão que Sabrina deseja. "Não conheço muitos lugares onde me sinto livre para ir sem ser reconhecida ou abordada", admite. "Antes, eu costumava ir muito ao Topanga Canyon, um lugar muito querido para mim."
Mas, após os recentes e devastadores incêndios, grande parte do parque foi destruída pelas chamas — e viajar, especialmente pela Europa, se tornou sua forma de ampliar a perspectiva. "Você aprende mais sobre a vida em uma conversa de 20 minutos com um italiano do que em 20 anos nos Estados Unidos."

Se a casa é seu refúgio favorito, a moda continua sendo seu playground. Desde os vestidos que remetem à infância até os corpetes brilhantes usados no palco, Carpenter entende as roupas como extensões da própria identidade. "Adoro os baby dolls ou, em geral, qualquer coisa que me faça sentir confortável", diz ela.
Seja brilho ou simplicidade, suas escolhas refletem seu estado de espírito. Essa filosofia transparece em cada look e em cada letra que ela escreve: para Carpenter, a feminilidade não é uma máscara, mas um experimento, um personagem mutável que ela escreve e reescreve.
Ela gosta das contradições: um dia escolhe o delineador esfumado e o glamour dos anos 60; no outro, se enrosca em algo confortável. Não vê performance e realidade como opostos, mas como partes de um todo. Cada expressão é uma forma de mostrar quem ela é naquele momento.
Carpenter sabe que o público a ama, em parte, porque ela se recusa a escolher entre ironia e sinceridade, entre glamour e desajeitamento.
Ela pode ser a estrela de um festival vestida com roupas brilhantes e, logo depois, rir de si mesma por ter passado a noite coçando picadas de insetos.
É esse equilíbrio entre o cinematográfico e o leve, o elegante e o irônico, que define o seu mundo.
Para ela, feminilidade não é nem uma fantasia nem uma prisão. É um espaço de invenção, ironia, ternura — uma linguagem que pode usar de qualquer forma que lhe pareça autêntica, sem precisar teorizar demais sobre isso.
Em certo sentido, é o oposto de alguém que pensa demais. É alguém que sente demais.
"Acho que é isso que torna tão alegre, para mim, ser mulher," diz ela.

Essa atitude impede que suas performances sejam excessivamente polidas ou perfeitas, permitindo que ela pisque para o público mesmo ao mostrar sua vulnerabilidade.
Em um cenário pop que frequentemente brilha com uma luz intensa, mas passageira, Carpenter construiu uma relação que parece mais um diálogo do que uma simples apresentação.
E é essa intimidade que ela cria que faz sua ascensão parecer menos a de uma estrela solitária e mais a de um grupo de amigos que, juntos, alcançam a maturidade.
Olhando para o futuro, Carpenter está determinada a criar suas músicas pensando em sua possível longevidade. "Precisamos voltar às origens, ser autênticos, se quisermos nos orgulhar do que criamos também no longo prazo, daqui a vinte anos," reflete.
Não se trata apenas de espetáculo, mas de despertar alegria, nutrir sua comunidade — e deixar uma obra que, no futuro, ainda possa fazer alguém rir ou chorar.
A entrevista com Sabrina Carpenter, estrela da capa da Vogue Itália de outubro de 2025, também estará disponível nas bancas a partir de 26 de setembro. Artigo original AQUI.




Comentários